domingo, 28 de outubro de 2007

Glenn Hughes – 28/10/2007 – Circo Voador, Rio de Janeiro

Texto: Rodrigo Werneck
Fotos: Pedro Paulo Moreira

Em mais uma passagem pelo Brasil, finalmente o baixista e vocalista Glenn Hughes se apresentou no Rio de Janeiro. O local escolhido foi o Circo Voador, cada vez mais um espaço aberto aos shows de rock, na efervescente e rejuvenescida Lapa.

A banda elencada para fazer a abertura foi a mediana Escaleno, que baseou seu repertório em material próprio, cantado em português, e vários covers. Nada digno de registro, infelizmente, e portanto boa parte do público presente aproveitou para se refrescar na área aberta do local, bebendo uma cerveja gelada (e bem menos cara do que em outras casas de shows do Rio).

Eram 10:25h quando o produtor do show adentrou o palco para anunciar a atração principal, não sem antes fazer um manifesto conclamando os fãs de rock cariocas a prestigiarem os eventos por ele produzidos, como forma de trazer mais apresentações para o Rio. Nada mais justo. Aproveitou para anunciar shows de Joe Lynn Turner (ex-Deep Purple e Rainbow) e outros, com possibilidades até de trazer a lendária banda de southern rock Lynyrd Skynyrd. É ver para crer, fiquemos então com os dedos cruzados...

Logo a seguir, apagaram-se as luzes e subiram ao palco os 3 músicos que acompanham Hughes nessa turnê: o guitarrista J.J. Marsh (parceiro de longa data), o tecladista Ed Roth e o baterista Stephen Stevens. Banda coesa, competente, mas não brilhante, acabou por segurar a onda nas músicas da carreira solo de Hughes, porém deixou um pouco a desejar nos clássicos do Deep Purple. Marsh emula bem as partes de guitarra de Blackmore, porém sem a mesma classe, e Roth toca nota por nota os solos de Hammond de Lord, mas falta algo (a palavra “carisma” me vem à mente). O baterista Stevens, principalmente, deixa bastante a desejar com sua pegada pesada porém um tanto quanto “dura”, sem direito a viradas ou variações maiores.

Por falar em clássicos do DP, foi justamente com a arrebatadora “Stormbringer” que o show abriu, com a aclamada entrada de Glenn e seu baixo Fender Jazz Bass e calça boca-de-sino. Mais anos 70, impossível. Público conquistado logo de cara, o termômetro continuou indicando temperatura alta com “Might Just Take Your Life”, com grande participação do público. Logo ao final da segunda música, Glenn manifestou pelo microfone que já considerava esse o melhor show da turnê pela América do Sul (resta saber se não falou o mesmo em todos os outros), que estava extremamente satisfeito em visitar o Rio pela primeira vez, e que era difícil de acreditar que nunca tivesse vindo antes. Aliás, a interação entre público e artista foi enorme durante as quase duas horas de show, rendendo vários comentados entusiasmados do próprio Glenn.

Conforme consenso entre todos os presentes, a voz de Hughes está em excelente estado. Isso ficou patente logo de cara, pois ele não se furtou a repetir todos os agudos constantes das versões originais do Purple. Sabe-se que o período sabático forçado pelo uso de drogas pesadas pelo qual o vocalista passou nos anos 80, uma semi-aposentadoria temporária, certamente o auxiliou a manter a voz em bom estado, afinal, as cordas vocais envelhecem em função de sua utilização. Mas “The Voice of Rock” é de fato um apelido pertinente. No baixo, mostrou a competência e a solidez de sempre, chegando a fazer algumas firulas em determinados momentos.

As músicas de sua carreira solo foram recebidas com mais frieza pelos presentes, mas de qualquer forma a mistura de hard rock com funk, sua especialidade, soou bem e ajudou a dar uma boa dinâmica ao espetáculo. Entre elas, destaque para “Don’t Let Me Bleed”, uma homenagem a uma antiga namorada que o abandonou pelo seu melhor amigo (dizem os Purple-maníacos que se trata de Jon Lord, ex-tecladista do DP), e que oscilou entre momentos balada e outros de mais peso. “Soul Mover” foi outro bom tema, com seu refrão contagiante.

Entre os clássicos do Purple, estiveram presentes no setlist ainda uma longa versão de “Mistreated” e “You Keep On Moving” (ambas cantadas em uníssono pela audiência), mais a funkeada “Gettin’ Tighter” (na qual homenageou o finado e saudoso guitarrista Tommy Bolin, que substituiu Ritchie Blackmore no Purple em 1975). “Mistreated” é uma música de grande apelo em concertos, embora quem melhor interprete sua letra seja mesmo David Coverdale, por melhor que Hughes cante (minha versão preferida, entretanto, ainda é a do “On Stage”, disco ao vivo do Rainbow com performances magistrais de Blackmore, Cozy Powell e Dio). O final apoteótico, como não poderia deixar de ser, teve “Burn”, na qual o show literalmente pegou fogo, com algumas pessoas subindo no palco e sendo atiradas de volta. O que, por sinal, rendeu uma cena inusitada: um sujeito foi arremessado de volta à área destinada à platéia, mas não se fez de rogado e mandou um “stage diving” com estilo. Ele só não podia esperar que ninguém iria se prontificar a segurá-lo, o que de fato ocorreu, e um sonoro estabaco o mancebo levou.

E, por volta das 0:20h, o show foi encerrado. Apenas 11 músicas tocadas, em versões em vários casos longas, resgatando o espírito de improviso dos shows antigos, algo muito bem-vindo por sinal. Ficou a sensação de “quero mais”, que poderá ser pelo jeito saciada em meados do próximo ano, quando Glenn Hughes e banda provavelmente retornarão para mais shows no Brasil, divulgando o novo CD que será gravado agora em novembro (Glenn anunciou que retornará em junho de 2008). A escolha do repertório foi boa, mas faltaram alguns clássicos do Trapeze, como “Seagul”, “Medusa” e “Coast To Coast”. Quem sabe no ano que vem?

Setlist:

- Stormbringer
- Might Just Take Your Life
- Land o' The Living
- Mistreated
- You Got Soul
- Don't Let Me Bleed
- Gettin' Tighter
- Steppin' On
- You Keep On Moving

Bis:

- Soul Mover
- Burn

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Steppenwolf – 5/09/2007 – Vivo Rio, Rio de Janeiro

Texto: Rodrigo Werneck e Marcelo Spindola Bacha
Fotos: Pedro Paulo Moreira


Em sua quarta visita ao Brasil, e anunciando a sua aposentadoria após 40 anos de uma carreira recheada de sucessos, a banda norte-americana Steppenwolf não decepcionou aqueles que compareceram aos concertos. No Rio, um público modesto de cerca de 600 pessoas compareceu, provavelmente devido à divulgação pouco eficiente e à falta de interesse do público em geral. Mas a agitação compensou os eventuais buracos na platéia, e a banda reconheceu e retribuiu com mais um vibrante show. Contando em sua formação com o líder, vocalista e guitarrista John Kay (ou Joachim Fritz Krauledat, como nativamente registrado na então Prússia Oriental, há 63 anos atrás), mais o guitarrista solo Danny Johnson (ex-Alice Cooper, Alcatrazz, Rod Stewart, Rick Derringer, etc.), o tecladista Michael Wilk (também webmaster do grupo) e o baterista Ron Hurst, o Steppenwolf destilou uma série de clássicos de sua várias fases, satisfazendo a todos os presentes.

Previsivelmente, os trabalhos foram abertos com “Sookie Sookie”, primeira faixa do primeiro álbum da banda (gravado em 1967 e lançado no ano seguinte), e tradicional número de abertura dos shows do Steppenwolf. O prosseguimento se deu sem muitas surpresas, sendo que, com um repertório tão extenso à disposição, Kay poderia ter ousado um pouco mais, mantendo ainda os números clássicos no repertório. Nem mesmo as estórias contadas entre as músicas (dessa feita traduzidas por um membro da produção local) mudam muito.

Musicalmente, o conjunto se mostrou tão afiado quanto nas visitas anteriores. O tecladista Michael Wilk (na banda há 25 anos) estava munido de um autêntico órgão Hammond, com sua respectiva caixa rotativa Leslie, e extraiu sonoridades sensacionais do instrumento, extremamente fiéis às versões originais. E, como se não bastasse, além de brincar com um “keytar” Korg (um daqueles teclados em formato de guitarra que tanto fizeram sucesso nos anos 80), ainda ficou a cargo da execução dos baixos, já que a banda abdicou da figura de um baixista propriamente dito desde os anos 80. No mesmo nível de excelência musical encontra-se o guitarrista Danny Johnson, o integrante mais recente do time, tendo se juntado aos companheiros há aproximadamente 10 anos. Tocando a maior parte do tempo com uma Gibson Les Paul marrom linda, Danny exibiu sua técnica impecável, com uma bagagem completa de recursos de blues, rock e jazz. É um músico muito experiente, e fornece todo o background para que John eventualmente execute seus trechos de slide guitar (uma Rickenbacker negra, lindíssima também) com total segurança, se não de forma virtuosa, pelo menos com bastante desenvoltura. Ron, o baterista, também na equipe desde os anos 80, cumpriu satisfatoriamente bem o seu papel, reproduzindo as batidas originais com precisão e discrição.

Dentre as músicas principais da época áurea da banda (oito discos lançados entre 1967 e 1972, quando encerraram as atividades pela primeira vez), foram tocadas “Snowblind Friend” (tradicional libelo antidrogas), “Hey Lawdy Mama” (uma música tocada ao vivo desde 1968, mas que, curiosamente, teve sua gravação em estúdio somente editada no álbum "Live", de 1970), “Rock Me” (do álbum “At Your Birthday Party”, de 1969), “Hoochie Coochie Man” (de Willie Dixon, gravada no primeiro disco, onde John faz sua homenagem ao blues de modo geral e a seu ídolo Muddy Waters, famoso intérprete da canção) e “Magic Carpet Ride” (do “Second”, também de 1969), um dos “hinos imortais” da psicodelia americana do final dos anos 60. A voz de John Kay, bastante preservada e com um timbre incrivelmente parecido com o de 40 anos atrás, emana uma forte carga histórica, suscitando imagens nostálgicas poderosas no público de diversas idades presente.

Outra composição de execução obrigatória, “Monster” (do álbum homônimo, de 1970, onde é creditada como “Monster/Suicide/America”), veio acompanhada do tradicional discurso “anti-establishment” (George Bush foi a vítima, pra variar). É sempre válido o artista se expressar, e John Kay é uma figura carismática e inteligente, com posições coerentes. Entretanto, seus discursos pouco acrescentam às músicas, pois as letras já possuem um conteúdo marcante, sendo muitíssimo bem escritas, concisas e com mensagens bastante claras, que falam por si só (ao contrário de muitas bandas “revolucionárias” dos anos 60/70, com textos empolados e muita confusão ideológica). É esse o caso, por exemplo, de “Move Over” (do mesmo álbum, talvez o mais “politizado” dentre os da época), também executada nessa noite.

A grande surpresa desse show em especial foi a inclusão da música "Screaming Night Hog", lançada em compacto de 1970 (um mês antes do disco "Seven"). É uma composição relativamente curta, característica de grande parte das faixas antigas da banda, mas com um riff de guitarra muito inspirado, onde John mostra um pouco da sua técnica com a gaita (presente também em um solo durante “Hoochie Coochie Man”).

Com tantas músicas para tocar em tão pouco tempo, poucas músicas mais recentes foram incluídas. Nesse aspecto, também não houve surpresas: a banda se ateve ao material do final dos anos 80, quando passaram a ser conhecidos como “John Kay & Steppenwolf”, mais precisamente dos discos “Paradox” (1984, tocaram “Tell Me It’s All Right”), “Rock’n’Roll Rebels” (de 1987, com “Hold On – Never Give Up, Never Give In” e a faixa-título) e “Rise & Shine” (de 1990, também a música-título).

Para o fechamento do show e o bis, tivemos, respectivamente, “Born to Be Wild” e “The Pusher” (antológica canção sobre drogas do músico country Hoyt Axton, gravada no primeiro disco da banda e executada ao vivo desde os tempos do Sparrow, formação pré-Steppenwolf a que John Kay veio a se integrar em 1965). Basta dizer que esse era o único fecho possível para um show e para uma carreira, exatamente o que todos estavam ali para ouvir e para celebrar.

Depois do Rio, o grupo seguiu para um show em Brasília, dois dias depois, realizado durante um festival de motociclistas, no que viria a ser a penúltima aparição ao vivo da história da banda (a derradeira apresentação teria vez um mês depois, no dia 6 de outubro de 2007, no Ripken Stadium em Aberdeen, Maryland, nos EUA). John Kay anunciou que a partir de agora irá se dedicar à fundação filantrópica de sua esposa, a “Maue Kay Foundation”. Aos fãs do Steppenwolf, restam as memórias de uma banda que permaneceu íntegra até seu fim, deixando os palcos de cabeça erguida.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Keane – Citibank Hall, Rio de Janeiro – 20/04/2007

Texto: Rodrigo Werneck
Fotos: Juliana Lameirão

Pelos PA’s ainda se ouvia a música ambiente (um rap que nada tinha a ver com a noite), quando as luzes do Citibank Hall se apagaram e o tecladista Tim Rice-Oxley irrompeu palco adentro, para súbito delírio dos presentes. Era o trio inglês Keane, queridinhos da nova geração do chamado britpop.

Logo na faixa de abertura, a instrumental “The Iron Sea”, os ingleses mostraram que levam sua música bastante a sério, e pelo que deu para perceber pelo show como um todo, têm um bom futuro pela frente, pois são consistentes. Comparados quando surgiram ao Coldplay, na realidade mostraram que possuem identidade própria. Completam o trio o (talentoso) vocalista Tom Chaplin e o (limitado, porém competente) baterista Richard Hughes. Aliás, uma formação inusitada que gera dúvidas sobre sua eficiência: apenas teclados, bateria e voz? O lance é que funciona muito bem ao vivo, com o Keane juntando um som encorpado a um carisma nato, apesar de ser uma banda ainda se habituando aos grandes públicos.

O cenário montado no palco era de grande efeito visual, com bolas sobre as quais os feixes de refletores eram jogados, mudando sua coloração dependendo do momento, o que também ocorria em relação ao que era projetado em diversas pequenas telas retangulares espalhadas pelo mesmo palco, e o que aparecia nos telões principais. Tudo compondo o clima para a música, nunca roubando sua atenção. Uma passarela foi montada em frente ao palco, para que Tom Chaplin pudesse volta e meia se deslocar e cantar rodeado pelo público, numa interação que funcionou sempre a contento. Além disso, ao seu final foi montado um “palquinho” auxiliar, como veremos a seguir.

O hit “Everybody’s Changing” fez o Citibank Hall tremer, com os fãs se esgoelando para se fazer ouvidos no refrão dessa que foi a primeira música da banda a estourar nas rádios. Em determinado momento, e criando um clima meio intimista da mesma forma que os Rolling Stones fizeram em seu já lendário show na Praia de Copacabana (aquele cujos números ditos “oficiais” indicavam a presença de 1,2 milhão de pessoas, apesar de que na verdade tinha lá aproximadamente a metade disso aparecido), os 3 integrantes do Keane se dirigiram à extremidade da passarela, onde ficava o tal segundo palco, e lá tocaram músicas mais acústicas: “The Frog Prince” (Chaplin ao violão), “Hamburg Song” e “Fly To Me”. O truque surtiu efeito, e o público curtiu a proximidade.

O pique do grupo não caiu no decorrer da apresentação, e mais sucessos foram apresentados, como “Somewhere Only We Know” e “Is It Any Wonder?”. Vale ressaltar que Tom Chaplin tem uma ótima comunicação com a platéia, demonstrando firmeza e experiência apesar da sua cara de menino. O tecladista Tim Rice-Oxley (quase homônimo do famoso letrista) é o grande talento da banda, do ponto de vista musical, pilotando sua tecladeira com grande competência, com destaque aos pianos elétricos (Fender Rhodes e afins). O baterista Richard Hughes segura a peteca, sem precisar abusar de recursos que não possui. É interessante notar que numa banda que não possui baixista, o bumbo de sua bateria é colocado com volume bem alto na mixagem propositalmente, de forma a fortalecer os timbres graves. Nesse estilo de música, acaba funcionando suficientemente bem.

Mais 3 músicas tocadas no bis acompanhadas em uníssono pela audiência, e nada de covers, que chegaram a ser especulados anteriormente (The Cult, The Who, etc.). O Keane soube chupar bem influências de outras bandas inglesas como Queen, Who, Coldplay e dos irlandeses do U2, e a partir daí criar o seu próprio som. Com um animado público que devia estar em suas 3.500-4.000 pessoas, o show não foi nada mal para uma estréia no Brasil (ou, no caso, no Rio).

Setlist:

1. The Iron Sea
2. Put It Behind You
3. Everybody’s Changing
4. Nothing In My Way
5. We Might As Well Be Strangers
6.
Bend And Break
7. Try Again
8. The Frog Prince9.
Hamburg Song
10. Fly To Me
11. Leaving So Soon?
12. This Is The Last Time
13. A Bad Dream
14. Somewhere Only We Know
15. Is It Any Wonder?

Bis:
16. Atlantic
17. Crystal Ball
18. Bedshaped