sábado, 5 de abril de 2008

Rod Stewart – HSBC Arena – Rio de Janeiro, RJ – 05/04/2008

Texto: Rodrigo Werneck
Fotos: Marcello Rossi

As gerações mais novas podem não saber, mas Rod Stewart deixou seu nome escrito na história do rock, e com letras capitais. Tendo passado por bandas lendárias como a primeira encarnação do Jeff Beck Group (que influenciou nada mais, nada menos, do que o Led Zeppelin) e o The Faces (com Ron “Rolling Stones” Wood e Kenney “The Who” Jones), lançou ainda excelentes discos solo nos anos 70, antes de enveredar por um caminho mais pop. Mesmo assim, manteve a qualidade nas composições, e esteve sempre acompanhado de bons músicos (como, por exemplo, o exímio baterista Carmine Appice, que também já tocou com Vanilla Fudge, Cactus, Beck Bogert & Appice, Ozzy Osbourne, etc.).

Felizmente, acabamos por receber essa nova visita de Stewart ao país num bom momento. Após gravar nada menos que 4 CDs compostos de “standards” burocráticos, mas efetivos comercialmente falando, Rod finalmente retornou ao rock com o recente disco “Still The Same... Great Rock Classics of Our Time”. Nele, (re)gravou covers de diversos artistas e alguns de seus próprios hits do passado. Tivemos portanto a sorte de vê-lo em sua turnê atual, nessa que foi a sua quarta visita ao país (esteve por aqui em 1985, no primeiro Rock In Rio, depois em 1989 e em 1994, sendo essa última para um show no Réveillon da Praia de Copacabana, RJ).

O local escolhido para o show foi a HSBC Arena, nova opção de médio/grande porte para shows no Rio de Janeiro, para até 15 mil pessoas. Originalmente era chamada de Arena Multiuso e foi amplamente utilizada nos últimos Jogos Pan-Americanos, e a partir daí foi adaptada para usos tanto esportivos quanto musicais, já tendo mostrado seus pontos fortes e fracos. A localização, no extremo da Zona Oeste, torna o acesso um tanto quanto complicado para o grosso do público, que tem que se deslocar das Zonas Sul e Norte, e enfrentar algumas retenções de trânsito pelo caminho. É caro parar o carro no estacionamento interno da Arena (R$ 15), mas existe a opção de se estacionar fora também (por mais módicos, e justos, R$ 2). A organização interna da casa, porém, chama a atenção (positivamente). Há muitos seguranças espalhados, e funcionários cujo único objetivo é o de orientar e informar os presentes. Há uma boa quantidade de bares e caixas para compra tíquetes de bebida e comida. Os banheiros são numerosos, grandes, limpos e bem localizados. Dentro da área destinada aos shows em si, todos os locais proporcionam uma boa visibilidade do palco, e os telões ajudam a se observar detalhes. A qualidade do som é satisfatória, e tende a melhorar já que os shows apenas começaram a ocorrer ali. Se o som estava um pouco baixo para um show de um Ozzy Osbourne da vida (ocorrido 2 dias antes), para o show de Rod Stewart entretanto, cuja faixa de público vai dos 15 aos 75 anos, estava bem adequado, com todos os instrumentos e vozes bem audíveis.

Uma numerosa e eficiente banda foi montada para acompanhar Rod: nada mais, nada menos, do que 12 pessoas. Seis homens (o tecladista Chuck Kentis, o baixista Conrad Korsch, o baterista Dave Palmer, o percussionista Matt O’Connor, e dois guitarristas cujos nomes desconheço) e seis mulheres (a já manjada saxofonista alemã Katja Rieckermann e seus longos pares de pernas, a violinista/bandolinista J'Anna Jacoby, a guitarrista de “pedal steel guitar” Robin Ruddy, e três vocalistas de apoio). Fora ainda duas dançarinas que volta e meia apareciam no palco para “apimentar” alguns números.

E portanto, às 22h em ponto, eis que surge a trupe no palco, configurando uma realidade que torcemos para que seja uma tendência no Rio: a pontualidade. Num palco limpo, sem monitores (todos usavam “ear plugs”), e com a gigantesca reprodução do símbolo do Celtic Football Club (clube de futebol escocês para o qual Rod torce fervorosamente) estampada no chão, rapidamente o público de cerca de 9.500 pessoas foi conquistado. Aliás, foi quase uma lotação, já que 10.000 ingressos foram colocados à venda, numa configuração com assentos para todos os presentes, sem uma pista propriamente dita. Tais assentos foram, no entanto, na maior parte do tempo ignorados pelo público, mais interessado em dançar e agitar.

O concerto foi dividido em duas partes. A primeira, mais calma e contendo mais baladas, trouxe a banda com um figurino tipicamente calcado nos dos bailes dos anos 50 ou 60, incluindo aí anacrônicos paletós reluzentes. À abertura com os hits “It’s A Heartache” e “Some Guys Have All The Luck” seguiram-se, obviamente, mais e mais hits. A tarefa árdua para Stewart não é escolher as músicas que farão parte de um repertório de show, mas sim decidir quais ficarão de fora. Dessa forma, infelizmente não tivemos “Father And Son” e “Every Picture Tells A Story” (que ele vem tocando na turnê), mas fomos brindados com “Tonight's The Night”, “Rhythm of My Heart”, “This Old Heart of Mine”, “Downtown Train”, “The First Cut Is The Deepest” (cover da original de Cat Stevens, e com destaque para o bom solo de guitarra), “Have I Told You Lately”, “Having A Party”, “Have You Ever Seen The Rain” (aquela mesmo, imortalizada por John Fogerty e o Creedence Clearwater Revival), e o fecho da primeira parte com “Fooled Around And Fell In Love”.

Um intervalo de 10 minutos, anunciado em espanhol (!!) no telão, se seguiu, dando direito a uma ida ao banheiro e/ou ao bar. Hora da banda dar uma rápida descansada, e trocar de figurino para o segundo set, mais pesado e também mais descontraído.

O início com “Sweet Little Rock’n’Roller”, de Chuck Berry, nos brindou com um Rod Stewart mais solto, mostrando que está em ótima forma física para os seus 63 anos. Pulou, dançou e agitou, e a voz rouca característica, quase impecável, não apresentou maiores falhas no decorrer do show. Após levarem “Young Turks”, seguiu-se “You're In My Heart”, durante a qual eram passados nos telões vídeos do já mencionado time do coração do cantor, o Celtic. Nessa hora, Rod distribuiu dezenas de bolas de futebol autografadas no decorrer da música, enquanto cantava, marca registrada sua. A cada bola chutada para longe, a platéia ia ao delírio. Truque manjado, mas de efeito. Destaque aqui para o ótimo arranjo privilegiando o uso do violino.

Para descansar do esforço físico de cantar e “jogar futebol” ao mesmo tempo, Stewart deixou o palco para que sua banda brilhasse um pouco. Uma das cantoras de apoio assumiu o vocal principal, e levaram “Proud Mary”, famosa na voz de Tina Turner, amiga de longa data de Rod. Na sua volta ao palco, outro hit, “I Don't Want To Talk About It”, e em seguida “Hot Legs”, ao início da qual foi exibida no telão uma foto de Rod vestido de mulher, gerando calorosa recepção do público, juntamente a várias gargalhadas. Duas dançarinas subiram ao palco nessa hora, fazendo coreografias junto à música. Um detalhe curioso é que nenhuma delas estava dentro do que se poderia considerar como sendo um estereótipo de beleza atual, já que uma era mais gordinha e a outra, magricela. Mesmo assim, o efeito desejado foi obtido. Falando em efeitos, em determinado momento (não me recordo exatamente em qual música), um indivíduo cruzou o palco levando no ombro uma estrutura metálica de sustentação do palco. Qual foi a mensagem, a maioria não pescou, mas talvez o objetivo tenha sido exatamente este.

Chegando à parte final do show, foi a vez da violinista trocar de instrumento e passar para o bandolim, e levarem a ótima “Maggie May”. Lembrando o sucesso do Rock In Rio, Stewart mandou a balada “Sailing”, onde o público tradicionalmente canta o refrão em uníssono. Para abrilhantar o momento ainda mais, um dos guitarristas nos brindou com dois ótimos solos de guitarra, pungentes e bem colocados, tirando um pouco da pecha de balada comercial. Vale a pena ressaltar que o som da guitarra estava literalmente perfeito, nem limpo nem sujo demais.

“Baby Jane” veio a seguir, levantando a galera, e após uma rápida saída para o tradicional retorno para o bis, foi a vez de “Da Ya Think I'm Sexy?”, que contou também com o retorno das dançarinas ao palco. Se a escolha dessa música, cuja melodia principal foi “baseada” em “Taj Mahal”, do Jorge Bem, para encerrar especificamente os shows no Brasil, foi proposital ou não, não se sabe, mas é fato que obteve uma recepção calorosa da platéia, que ao final das quase duas horas de show pôde ir embora plenamente satisfeita para casa.

Rod Stewart mostrou que é possível se fazer um rock mais comercial, porém mantendo a classe. Resta-nos agora torcer para que os boatos de uma reunião do The Faces sejam verdadeiros, e que uma eventual turnê passe por aqui!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Ozzy Osbourne – HSBC Arena – Rio de Janeiro, RJ – 03/04/2008

Texto: Rodrigo Werneck
Fotos: Marcello Rossi

O que mais se pode falar sobre Ozzy Osbourne? Que é uma lenda viva do rock em geral, ou mais especificamente do heavy metal ou do hard rock, ou dos três ao mesmo tempo? Que é uma celebridade televisiva, e se transformou numa personalidade conhecida por quase todos, gostem ou não de sua música? Provavelmente, tudo isso e mais um pouco. Mas o ponto básico é o seguinte: toda essa fama foi construída sobre bases sólidas, que é a carreira de Mr. Madman. Teve lá seus altos e baixos sim, mas foi sempre consistente (e com muito mais altos do que baixos, é bom ressaltar).

Em meio a essa gangorra de emoções, esteve no Brasil em dois festivais: o primeiro Rock In Rio (1985), e 10 anos depois no Monsters of Rock (1995). Na primeira visita (turnê do disco “Bark At The Moon”, de 1983), veio acompanhado de uma super-banda: Jake E. Lee (guitarra), Don Airey (teclados, hoje com o Deep Purple), Bob Daisley (baixo; já tocou com Rainbow, Uriah Heep, entre outros) e Tommy Aldridge (bateria; também tocou com uma pá de gente: Whitesnake, Thin Lizzy, Ted Nugent, etc.). Já na segunda vinda, em 1995 (na turnê do disco “Ozzmosis”), que gerou o que muito provavelmente é até hoje o show mais cheio da história do Metropolitan (atual Citibank Hall) aqui no Rio, vieram o guitarrista Joe Holmes (que substituiu Zakk Wylde por uns tempos na banda), o baixista Geezer Butler (companheiro de Ozzy no Black Sabbath), o baterista Deen Castronovo e o tecladista John Sinclair (ex-Uriah Heep).

Após longos 13 anos portanto, quando poucos poderiam esperar, eis que foi anunciada uma nova turnê pela América do Sul, englobando apenas 2 shows no Brasil (Rio e SP) e promovendo o disco “Black Rain” (2007). E, mais uma vez, com ares de festival, já que Ozzy acabou vindo acompanhado pelas bandas Black Label Society e Korn. Uma espécie de mini-Ozzfest (o festival itinerante de sucesso, que Ozzy vem liderando há vários anos). O local escolhido para o show do Rio dessa vez foi a nova HSBC Arena, que recebeu um ótimo público de 12.000 pessoas, seu recorde de presença até agora.

As pessoas ainda chegavam à Arena, quando iniciou o show do Black Label Society, com um público apenas razoável já presente. Talvez por isso, muito da estrutura da casa estava ainda aparente (concreto e armações metálicas), o que não ajudou de forma alguma à qualidade do som, muito pelo contrário. Some-se a isso o som alto e pesado do BLS, com a guitarra de Zakk Wylde tocada de forma bastante estridente, e o resultado da equação acabou sendo uma maçaroca sonora que somente agradou aos que já conheciam o repertório da banda, o que não foi o meu caso. Como as canções têm também em sua maioria um andamento parecido, com poucas variações, a impressão que dá é que todas eram muito similares. De qualquer forma, os fãs se deleitaram com os constantes solos e trocas de guitarra de Zakk, cortesia da Gibson, sua “endorsee”. Além disso, ele cuidou dos vocais de forma eficiente e correta, porém sem grande brilho. Foi uma apresentação curta, de 45 minutos, mas o BLS deu o seu recado e agitou a galera.

Após um intervalo enxuto (as trocas de palco foram bem organizadas e bastante eficientes), subiu ao palco o Korn. Notava-se entre os presentes que a banda dividia opiniões: alguns adoravam, outros odiavam, alguns eram indiferentes, e outros ainda se divertiram mesmo sem ter se impressionado muito com o som. Uma boa amostra disso foi que as áreas próximas aos bares ficaram cheias durante todo o show (embora a pista e as arquibancadas também estivessem bem recheadas, é justo ressaltar). As guitarras de 7 cordas com afinação mais baixa cria um clima bem pesado, auxiliadas por uma iluminação adequada e uma qualidade sonora já melhor que a do BLS (o público já mais numeroso ajudou a “esquentar” a sonoridade da casa, e certamente os técnicos de som foram se encontrando com o passar do tempo). O som “nu-metal”, misturando heavy metal com hip hop, não me atrai particularmente, logo dei uma conferida mas não tenho condições de analisar o show como um todo. Esperava ouvir o cover de “Another Brick In The Wall” (Pink Floyd), mas o máximo que rolou foi uma citação de “We Will Rock You”, do Queen. Digno de menção é também o pedestal do microfone usado pelo vocalista Jonathan Davis, uma bela obra de arte do artista suíço H.R. Giger, que se notabilizou principalmente pela capa do disco “Brain Salad Surgery” (do Emerson Lake & Palmer) e pelos figurinos do filme “Alien”, misturando sempre um visual futurístico com cenas de terror (e eventuais e veladas referências eróticas).

Apesar do show de Ozzy especificamente ter sido anunciado para ter início às 23h, o que acabou ocorrendo foi que às 22:15h teve início o espetáculo. Quem se programou em função do que estava escrito no ingresso, se deu mal e perdeu boa parte do show. Mas vamos ao que interessa. Com as luzes ainda acesas, pôde-se ouvir pelos PA’s a voz de Ozzy atiçando o público, conclamando todos a fazer corinhos e a gritar, aumentando assim o nível de excitação geral. Alguns chegaram a duvidar que fosse mesmo ele, ou a pensar que se tratasse de uma gravação com a sua voz, mas pelo grau de interação em função da resposta do público, ficou claro que era a figura mesmo. Em seguida, apagaram-se as luzes e o tradicional vídeo contendo fragmentos de filmes e séries de sucesso, e inserindo o próprio Ozzy no contexto, surgiu nos telões e gerou as esperadas gargalhadas e aplausos. Cenas de “Piratas do Caribe”, “Lost”, “The Office”, “Os Sopranos”, etc., foram se sucedendo, até que o telão se encheu de cruzes e o P.A. iniciou a tocar a indefectível “Carmina Burana”, de Carl Orff, que antecedeu como usual a entrada do grupo.

Como o repertório foi fartamente comentado de antemão, poucas foram as surpresas. A abertura com a nova “I Don’t Wanna Stop” mostrou que o disco mais recente (o já citado “Black Rain”) já é bem conhecido do público brasileiro, e seu pique foi adequado para o início do show. Na realidade, pela excitação da maioria dos presentes, Ozzy poderia ter tocado qualquer coisa que o resultado teria sido positivo. Seguiu-se uma série de clássicos da carreira solo do vocalista: “Bark At The Moon” (da era Jake Lee), “Suicide Solution” e Mr. Crowley (ambas da era Randy Rhoads). Vale aqui um parêntese: Ozzy esteve sempre acompanhado de ótimos guitarristas em sua carreira solo, e na minha humilde opinião Zakk fica abaixo somente de Rhoads (RIP) e Lee. Anda um pouco presepeiro ultimamente, mas a garotada gosta de firulas. De qualquer forma, é capaz de emular os solos de Lee e Rhoads com absoluta precisão (sem contar com os seus próprios, claro). A “cozinha”, formada por Rob “Blasko” Nicholson (baixo, ex-Prong, Danzig, Rob Zombie) e Mike Bordin (bateria, ex-Faith No More), segurou a peteca muito bem, e se não chegou a brilhar, pelo menos manteve o nível de qualidade lá no alto. Por fim, o tecladista Adam Wakeman, filho de ninguém mais, ninguém menos, que Rick Wakeman, tecladista virtuose mais conhecido por seu trabalho no Yes, mas que ostenta longa carreira solo e já tocou também com artistas que vão de David Bowie a Strawbs, além de ter participado de discos tanto do Sabbath quanto do próprio Ozzy. Um detalhe curioso: outro filho de Rick, Oliver Wakeman (irmão mais velho de Adam e também tecladista), é quem irá excursionar com o Yes na turnê de 40 anos do grupo, substituindo o pai. Mas isso já é outra estória...

Voltemos ao show. Mais uma música nova se seguiu, “Not Going Away”, que com o seu refrão cativante não deixou nada a desejar em comparação ao material antigo. É verdade que as coisas viriam a esquentar de fato na música seguinte, “War Pigs”. O clássico do Black Sabbath, composto há quase 40 anos atrás, venceu o teste do tempo e continua atual. Tudo nela funciona de forma perfeita numa apresentação ao vivo: a introdução pesada e lenta, acompanhada por sirenes que parecem prenunciar o apocalipse, as partes vocais que parecem ter sido premeditadamente calculadas para angariar a participação do público (que não fez feio aqui no Rio), e a cataclísmica parte final, com sua empolgante e arrebatadora acelerada, um autêntico “presto” metálico.

Seguiram-se alguns grandes sucessos da carreira solo de Ozzy, uma sucessão deles, sem deixar o pique cair um minuto. “Road To Nowhere” (do multi-platinado álbum “No More Tears”, que relançou Ozzy ao estrelato em tempos de MTV) e “Crazy Train”, com o solo original de Rhoads sendo bem interpretado por Wylde, que continuava a desfilar suas várias guitarras (incluindo uma modelo Flying V Randy Rhoads, algumas Les Paul signature suas, uma SG de braço duplo, etc.). Foi hora de uma pausa para Ozzy, que se deu através de um longuíssimo solo de Zakk, que durou (pasmem!) cerca de 10 minutos. Há quem goste, mas acho uma total perda de tempo, tendo em vista a quantidade de solos dentro das próprias músicas, além do que acaba por cansar os ouvidos da platéia. Mais sensato seria a banda toda levar algum tema instrumental durante a saída do líder (com direito, é claro, a solos de Zakk!).

Bem, de volta à música, foi a vez de mais um clássico do Sabbath, “Iron Man”, que agora virou até tema de trilha sonora de filme hollywoodiano (“Homem de Ferro”). Como qualquer clássico sabbathiano, levantou até mesmo os bêbados ou chapados que estavam até então jogados em algum canto. Os bares? Estavam às moscas nessa hora, é fato. Pena que não tenham tocado a versão completa, com a parte mais rápida ao seu final. O pique não podia cair, e emendaram em “I Don’t Know”, que durante muitos anos foi a música de abertura dos shows. Nas partes instrumentais, Ozzy seguia o seu tradicional rito de arremessar baldes e mais baldes de água na galera, que adorava. Dizem as más línguas que havia um segurança que andava a catar para si próprio as palhetas arremessadas por Zakk e que o público não conseguia alcançar, provavelmente com o intuito de tentar vendê-las após o show. Por coincidência ou não (quem sabe se Zakk não deu um toque em Ozzy), toda a água um dos baldes foi parar na cabeça do dito cujo, que teve continuar estático pelo resto do show inteiro com seu terno literalmente ensopado. A galera se divertiu ainda mais...

E, finalmente, um momento surpresa acabou por surgir: Ozzy anunciou “No More Tears”, talvez o maior sucesso de sua carreira solo por essas bandas, e que não vinha sendo tocada nos shows mais recentes. A galera, é claro, foi ao delírio. Um breve problema técnico no baixo de Blasko exigiu do Madman uma rápida sacada espirituosa, mas logo em seguida a música teve início, tendo seu refrão cantado por todos. O interlúdio instrumental em sua metade deu destaque ao tecladista Adam Wakeman, e em seguida Zakk Wylde detonou seu tradicional solo (talvez o mais bonito que já compôs para uma música do Ozzy). De alma (e, para o pessoal das primeiras filas, a cara também) lavada, o final da apresentação foi se aproximando. A nova balada “Here For You” proporcionou o indefectível momento “isqueiros e celulares ao alto”, com os braços balançando numa coreografia orquestrada pelo próprio Ozzy. “I Don’t Want To Change The World” foi a última antes da saída para o bis. Talvez a escolha de tantas músicas do mesmo disco (“No More Tears”) seja o único ponto desbalanceado do set, porém a popularidade delas é clara. E, afinal de contas, “I Don’t Want To Change The World” deu um Grammy ao Ozzy.

A rápida volta para o bis ocorreu com mais uma canção repleta de prêmios e boas colocações nas paradas, “Mama, I’m Coming Home”. Depois dessa, só faltava mesmo o fecho com mais uma clássica e infalível do Sabbath, “Paranoid”. Aí ocorreu o inesperado. Zakk Wylde simplesmente arremessou sua guitarra (na oportunidade, uma Gibson Chet Atkins) no público localizado na pista. A audiência, incrédula, se dividiu entre os que queriam simplesmente tocar no instrumento, os que literalmente queriam um pedaço para levar para casa, e os que trataram de sair de perto da confusão armada. Seguranças, da casa e da banda, surgiram rapidamente de todos os lados, tentando recuperar o instrumento. Enquanto isso, “Paranoid” rolava só com baixo, teclado e bateria. Então, o mais inusitado acabou ocorrendo: Zakk se atirou no meio do público. Depois de algum tempo, porém, cansou e retornou ao palco. Pouco depois, os seguranças recuperaram sua guitarra ou, melhor dizendo, o que restou dela. A mão (“headstock”) havia sido arrancada, e provavelmente outras peças menores, além das cordas, é claro. Zakk recebeu a guitarra e, com pinta de irritado, simplesmente jogou-a de lado, no chão perto dos amplificadores. A essa altura, o show já havia se encerrado, e Ozzy convocou todos os músicos a se abraçarem na frente do palco e agradecer ao público, naquela hora completamente extasiado. Zakk, meio contrariado, participou da confraternização, sendo consolado por Mike Bordin. Vamos aguardar para ouvir a versão dele (Zakk) sobre o incidente (há registros de casos bem parecidos em outros shows).

Conclusão final: Ozzy pode estar lá com seus quase 60 anos, apresentando seqüelas decorrentes de anos de abuso de álcool e drogas, tremedeiras oriundas da Síndrome de Parkin (enfermidade genética e relativamente branda que o acomete), e outras coisas mais. Entretanto, quando sobe no palco, mostra que nasceu para isso, e que poucos podem se comparar a ele. Sua voz está em bom estado (as eventuais desafinadas ocorrem há muitos anos), ele transborda carisma, e nitidamente curte tanto os shows quanto seus fãs. Longa vida ao “Príncipe das Trevas”, e que retorne em breve conforme prometeu nos shows!

Setlist:

- I Don’t Wanna Stop
- Bark At The Moon
- Suicide Solution
- Mr. Crowley
- Not Going Away
- War Pigs
- Road To Nowhere
- Crazy Train
- Zakk Wylde guitar solo
- Iron Man
- I Don’t Know
- No More Tears
- Here For You
- I Don’t Want To Change The World

Bis:

- Mama, I’m Coming Home
- Paranoid